TDAH: exames genéticos podem ajudar no diagnóstico

Entenda o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade da primeira infância à fase adulta

Até que tivessem um diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, muitas crianças já sofreram, em um passado recente, com rótulos de “péssimos alunos”, “bagunceiras”, “levadas”, “lerdas” ou “estabanadas”, entre outros. Outras continuam sendo estigmatizadas. O TDAH provoca sintomas como desatenção, distração e inquietação. Eles fazem com que os pequenos se sintam, por exemplo, incomodados em ficar sentados numa sala de aula por quatro horas seguidas, mantendo a atenção e o foco por esse período, tendo dificuldades de seguir os padrões estabelecidos pelo sistema tradicional de ensino. Os sintomas ainda costumam fazer com que as crianças sejam mais inquietas e esquecidas em sua vida cotidiana.

Com maior conscientização sobre o problema, por um lado, esses rótulos foram sendo derrubados um a um. Sabe-se, por exemplo, que muitas crianças com TDAH possuem inteligência acima da média e que, na maioria dos casos, os medicamentos são capazes de minimizar os sintomas, proporcionando a elas uma vida normal. Por outro lado, com maior visibilidade do transtorno, muitos especialistas criticam o que chamam de “epidemia de TDAH e normalização dos medicamentos”. Alertam que nem todas as crianças inquietas, arteiras e menos focadas sofrem de TDAH. Isso exige uma atenção maior de pais e especialistas.

Frequentemente associado à infância, vale ressaltar que o Transtorno do Déficit de Atenção também pode acometer adultos, que, na maioria das vezes, só descobrem o distúrbio tardiamente. Vítimas de sintomas como dificuldades de priorizar e concluir tarefas, desorganização, procrastinação, impulsividades e esquecimentos, entre outros, adultos com TDAH costumam ter a vida profissional, acadêmica e social prejudicadas. Também enfrentam estigmas de serem pessoas “preguiçosas”, “enroladas” ou “desorganizadas”.

Tanto em crianças como em adultos, o grande desafio é fazer o diagnóstico correto da doença, o mais cedo possível. Como isso é feito basicamente por avaliação clínica de um especialista, não são incomuns equívocos, sobretudo, pelo fato de os sintomas do transtorno se sobreporem aos de vários outros transtornos neurológicos e transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Um avanço recente nesse sentido é a realização de testes genéticos e genômicos que podem auxiliar no diagnóstico. Aqui, no Blog do Lustosa, você vai conhecer tudo sobre o TDAH, seus sintomas, tratamentos e sobre as técnicas mais atuais para o diagnóstico.

O que é TDAH?

De acordo com o Ministério da Saúde, o TDAH é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Afeta de 3% a 5% das crianças em idade escolar, sendo predominantemente os meninos. Se não tratados, os sintomas podem acompanhar o indivíduo por toda a vida adulta.

Sintomas do TDAH infantil: o que você precisa prestar atenção

O Ministério da Saúde destaca vários sintomas característicos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade infantil. Pais e responsáveis devem prestar atenção nesses sinais. As crianças acometidas pelo problema são geralmente agitadas, inquietas, mexem mãos e pés, mexem em vários objetos, não conseguem ficar quietas (sentadas numa cadeira, por exemplo), falam muito, têm dificuldade de permanecer atentos em atividades longas, repetitivas ou que não lhes sejam interessantes. São facilmente distraídas por estímulos do ambiente ou se distraem com seus próprios pensamentos. O esquecimento é uma das principais queixas dos pais, pois as crianças “esquecem” o material escolar, os recados, o que estudaram para a prova.

A impulsividade é também um sintoma comum e apresenta-se em situações como: não conseguir esperar sua vez, não ler a pergunta até o final e responder, interromper os outros, agir sem pensar. Apresentam com frequência dificuldade em se organizar e planejar o que precisam fazer. As meninas têm menos sintomas de hiperatividade e impulsividade, mas são igualmente desatentas.

Teste de TDAH Infantil: como é feito o diagnóstico?

O Diagnóstico de TDAH é basicamente clínico. Nessa tarefa, especialistas têm adotado testes para avaliar as funções cognitivas. Uma das dificuldades no diagnóstico do TDAH, entretanto, é que os sintomas são muito semelhantes e costumam se sobrepor aos de outros transtornos, como de ansiedade, depressão e Transtorno do Espectro Autista (TEA). Isso faz com que, em muitos casos, os diagnósticos sejam tardios e equivocados. Para evitar esses problemas, atualmente vêm sendo realizados exames genéticos e genômicos como apoio à análise clínica.

De acordo com a Assessora Técnica em Genética e Genômica do Laboratório Lustosa, Fernanda Soardi, os exames genéticos e genômicos são um avanço em busca de um diagnóstico mais assertivo. Nesse sentido, estão sendo, atualmente, aplicados diferentes exames genéticos e genômicos, como os painéis multigênicos e o exoma, que são capazes de fazer o mapeamento de vários genes já relacionados aos transtornos do neurodesenvolvimento. “Isso possibilita um maior conhecimento sobre as bases genéticas do transtorno, auxilia no melhor acompanhamento e tratamento clínico, direciona a escolha para a terapia ou terapias mais adequadas, além de serem informativos para a família e para uma reestruturação ambiental”, explica.

A especialista destaca que os exames genéticos e genômicos são indicados quando há vários casos de TDAH em uma mesma família, quando existe uma suspeita clínica de variantes genéticas específicas, além de quando há sobreposição de características com outros transtornos do neurodesenvolvimento, conforme citado. “Mas é importante ressaltar que a opção por um exame genético na investigação do TDAH é do médico especialista, sendo direcionada principalmente pelo histórico pessoal e familiar do indivíduo”, complementa.

Pediatra e professores: como eles podem ajudar no diagnóstico e no tratamento do TDAH Infantil?

Segundo a Associação Brasileira de Transtorno de Déficit de Atenção, o tratamento do TDAH deve ser multidisciplinar, combinando medicamentos, psicoterapia e fonoaudiologia (quando houver também transtornos de fala e ou de escrita).

Além disso, a entidade lista uma série de orientações para que pais e professores ajudem no tratamento e acompanhamento das crianças acometidas pelo transtorno. Vejam as dicas:

Ajustes e Adaptações Básicas

  1.  Reduzir as tarefas, torná-las mais curtas ou dividi-las em partes, etapas.
  2.  Reduzir as tarefas escritas e de copiar.
  3.  Facilitar alternativas distintas de avaliação: oral, com projetos especiais.
  4.  Utilizar suportes complementares na classe como gravadores, calculadoras, computadores, papel carbono, etc.
  5.  Pôr notas das datas em que devem ser entregues as tarefas e trabalhos.
  6.  Complementar, reforçar instruções verbais com informação visual.
  7.  Dar cópias das notas básicas dos capítulos.
  8.  Modificar, simplificar o texto do livro de exercícios.
  9.  Ter em casa uma cópia do texto da escola.

Ajustes e intervenções específicas

No ambiente

  1. Sentar-se na frente, perto do professor.
  2. Sentá-lo longe das distrações.
  3. Limitar as distrações visuais.
  4. Reduzir o nível de ruído quando necessária concentração.
  5. Fazer cartazes e guias para referência do aluno.


Organização

  1. Escrever as tarefas no quadro e explicá-las oralmente.
  2. Usar e seguir o calendário diariamente.
  3. Clarificar as tarefas no final do dia.
  4. Conferir com o professor ou parentes os materiais necessários para levar para casa.
  5. Dar-lhe materiais prontos para arquivar na pasta
  6. Ter pastas, cadernos, etc.,com divisões e cores diferentes.
  7. Ajudar a organizar a mesa e materiais.
  8. Codificar os textos e livros por cor.
  9. Colar uma lista na mesa de: “Coisas por fazer”.
  10. Dividir tarefas longas.
  11. Limitar a quantidade de materiais sobre a mesa da criança.

Comunicação e trabalho em equipe 

  1. As comunicações diárias ou semanais devem ser assinadas pelos pais com gráficos e guias especiais que indiquem o comportamento e se os trabalhos estão completos.
  2. Comunicação telefônica frequente com os pais (Lembre-se de compartilhar as conquistas positivas e as preocupações).
  3. Encontros mais frequentes com os pais para construir uma equipe de trabalho com e para a criança.
  4. Compartilhar com outro professor suas conquistas, atividades, disciplina, trabalho em equipe.
  5. Fazer com que o aluno saiba que estamos interessados em ajudá-lo, dialogar sobre as suas necessidades e incentivar a comunicação aberta.

 

Gestão em sala de aula

  1. Aumentar a estrutura e o monitoramento dos comportamentos concretos.
  2. Definir com clareza as expectativas e as consequências (Verifique-as frequentemente).
  3. Ter proximidade física com o aluno, contato visual permanente.
  4. Ensinar apenas quando haja silêncio e todos estejam atentos.
  5. Elogiar comportamentos positivos.
  6. Utilizar cartas de progresso, contratos para melhorar o comportamento.
  7. Facilitar oportunidades de movimento e descansos frequentes.
  8. Dar apoio extra durante as transições e mudanças do dia.
  9. Permitir que o estudante participe da seleção das consequências e dos prêmios.
  10. Utilizar períodos de reforço curtos com avaliação constante.

 

Ensino e avaliação

  1. Dar tempo extra para processar informações (falar mais lentamente e dar mais “tempo para que o aluno pense e responda”).
  2. Aumentar a quantidade de exemplos, modelos, demonstrações e prática dirigida.
  3. Dar muitas oportunidades para trabalhar com companheiros ou em grupo pequeno.
  4. Oferecer oportunidades para verbalizar na aula, para expressar-se sem temor em um clima seguro sem temer o ridículo.
  5. Analisar o progresso e reforçá-lo: tarefas, trabalho em classe etc.
  6. Utilizar técnicas multissensoriais.
  7. Propor projetos que permitam a criatividade e expressão.
  8. Permitir o uso de computadores, calculadoras etc.
  9. Ajustar-se às dificuldades envolvidas nos trabalhos escritos por meio de:
    a.      Mais tempo disponível para completar.
    b.      Respostas orais.
    c.      Ditar as respostas, para que alguém as copie.
    d.      Permitir que os pais assinem o trabalho depois de algum tempo.
  10. Repetir as instruções dadas.
  11. Destacar os pontos importantes do texto.
  12. Facilitar-lhe com diagramas e resumos da lição.
  13. Dar-lhe gravações com a leitura do texto.
  14. Usar técnicas de perguntas variadas para dar mais oportunidades de resposta.
  15. Fornecer guias simples, organizados, breves.

A importância de contar com um especialista em TDAH infantil

Para a Assessora em Genética e Genômica do Laboratório Lustosa, Fernanda Soardi, é fundamental que os pais observem os sinais do Transtorno e levem o quanto antes a criança a um especialista em TDAH. Com o diagnóstico correto, é possível que as crianças sejam encaminhadas o quanto antes para um tratamento adequado e tenham uma melhor qualidade de vida, com o uso de terapias e, quando necessário, medicamentos, que possibilitam que os sintomas sejam minimizados.

Quais são as causas do TDAH?

Conforme a Associação Brasileira de Transtorno de Déficit de Atenção, estudos científicos apontam a predisposição genética e a ocorrência de alterações nos neurotransmissores (dopamina e noradrenalina) que estabelecem as conexões entre os neurônios na região frontal do cérebro como as causas do Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade.

TDAH na fase adulta

Normalmente associado à infância, o Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) pode acompanhar o indivíduo até a vida adulta. Nessa fase, o diagnóstico costuma ser ainda mais demorado, e, por muitas vezes, equivocado. Sintomas como desatenção, dificuldades de finalizar ou estabelecer prioridades entre tarefas, desorganização, sensibilidade emocional e esquecimentos, entre outros, costumam levar a diagnósticos errôneos de outros transtornos depressivos e ansiosos.

Sem tratamentos adequados, os pacientes sofrem com estigmas em sua vida profissional, acadêmica e nos relacionamentos interpessoais. Também nessa fase, os exames genéticos e genômicos podem contribuir para um diagnóstico mais efetivo. “Não há idade limite para a realização de uma investigação genética de transtornos do neurodesenvolvimento. O conhecimento sobre variantes genéticas em adultos pode ser relevante para aconselhamento genético, para auxiliar no maior conhecimento pessoal e familiar sobre o transtorno, e pode também auxiliar na escolha de psicoterapias e acompanhamento terapêutico mais adequado”, argumenta Fernanda Soardi, do Laboratório Lustosa.

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