Conheça o exame Fator Antinuclear e entenda que doenças podem estar relacionadas a um resultado alterado.
Quem nunca, após a realização de exames de análises clínicas, biópsias ou de imagem, entre outros, correu para o “Google” para pesquisar os resultados e descobrir antecipadamente se estava ou não com algum problema de saúde? O ato, corriqueiro entre brasileiros, pode levar a interpretações equivocadas, sobretudo, naqueles exames de interpretação mais complexa. Isso pode acontecer, por exemplo, com o FAN, sigla do teste Fator Antinuclear.
O FAN é um exame de sangue comum, indicado para rastrear autoanticorpos, sistema de defesa que ataca as células e tecidos saudáveis do organismo, em pacientes com suspeita clínica de doenças autoimunes. Mas, quando o resultado do FAN é positivo, é sinal de que o paciente esteja, de fato, com alguma doença autoimune?
Essa dúvida pode gerar no paciente um turbilhão de preocupações e medos. Mas a resposta da pergunta depende de vários outros fatores. O Fator Antinuclear não tem o objetivo de dar um diagnóstico definitivo. Tendo um resultado positivo no teste, outros exames são necessários e é essencial uma avaliação do quadro clínico do paciente por um profissional médico, preferencialmente reumatologista.
Então, como o FAN funciona e por que ele é importante? Em que casos ele é indicado? Quais doenças ele permite investigar? Quais as tecnologias usadas em sua realização? O Lustosa fez um apanhado com várias informações para você conhecer tudo sobre o FAN. Veja a seguir.
O que é FAN?
Para entender o Fator Antinuclear (FAN), faz-se necessária a definição de alguns conceitos. Os anticorpos, por exemplo, segundo a Sociedade Catarinense de Reumatologia, são produzidos por nossas células de defesa, que servem para atacar micro-organismos invasores (vírus e bactérias), protegendo o corpo contra microrganismos externos.
No entanto, algumas doenças classificadas como autoimunes aparecem porque, por alguma falha de regulação do sistema de defesa (nosso sistema imunológico), os linfócitos produzem anticorpos que dirigem um ataque contra células e órgãos saudáveis do próprio corpo, como se esses fossem agentes agressores.
O FAN nada mais é, portanto, é um exame que permite identificar anticorpos que agem contra as células do nosso corpo – os autoanticorpos. E cada tipo de autoanticorpo está relacionado a doenças autoimunes específicas.
O que são doenças autoimunes e quais podem ser identificadas através do FAN?
As doenças autoimunes ocorrem quando o sistema imunológico confunde as células saudáveis do próprio organismo com agentes invasores e passa a atacá-las. As principais são:
- Síndrome de Sjögren: secura ocular e na boca
- Lúpus: caracterizada pela inflamação das articulações, pele, olhos e rins, por exemplo;
- Hepatite autoimune: inflamação do fígado causada pelo sistema imunológico
- Esclerodermia: caracterizada pelo aumento da produção do colágeno, causando o endurecimento da pele e das articulações.
Quais os tipos de FAN?
Existem mais de 20 tipos de FAN. Cada um age contra uma estrutura celular específica, caracterizando tipos diferentes de doenças autoimunes.
Conforme estudo da Universidade Federal do Rio Grane do Sul (UFRS), os padrões mais comuns do FAN e suas prováveis patologias são:
- Nuclear pontilhado centromérico: Esclerodermia ou Cirrose biliar primária.
- Nuclear homogêneo: Lúpus, Artrite Reumatoide, Artrite Idiopática Juvenil, Síndrome de Felty ou Cirrose Biliar Primária.
- Nuclear tipo membrana nuclear contínua: Lúpus ou Hepatite autoimune.
- Nuclear pontilhado fino: Síndrome de Sjögren Primária, Lúpus Eritematoso Sistêmico ou Lúpus.
- Nuclear pontilhado fino Denso: Inespecífico, pode estar presente em várias doenças auto-imunes e também naCistite Intersticial, Dermatite Atópica, Psoríase ou Asma.
- Nuclear pontilhado grosso: Doença Mista do Tecido Conjuntivo, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Esclerose Sistêmica ou Artrite Reumatoide.
- Nucleolar pontilhado: Esclerose Sistêmica.
- Citoplasmático pontilhado reticulado: Cirrose Biliar Primária ou Esclerose Sistêmica.
- Citoplasmático pontilhado fino: Polimiosite ou Dermatomiosite.
(sugestão: Incluir imagem de uma lâmina do Lustosa, exemplificando um – ou todos – dos padrões acima)
Como é feito o exame FAN?
O FAN é feito com amostras de sangue, por meio das quais é possível identificar todos os anticorpos circulantes através da adição de um corante fluorescente ao sangue. Se houver autoanticorpos (anticorpos que agem contra estruturas das células humanas), estes irão se fixar às células, tornando-as fluorescentes.
Se o autoanticorpo for contra o núcleo das células, a imagem no microscópio será de vários núcleos fluorescentes. Se autoanticorpo for contra o citoplasma das células, vários citoplasmas ficarão brilhando, e assim por diante. Se não houver autoanticorpos, nenhuma parte das células ficará fluorescente, caracterizando um FAN não-reativo.
Quais são os números de referência para o exame de FAN?
O sangue coletado do paciente, durante o exame, é diluído na seguinte ordem: 40, 80, 160, 320, 640 vezes e assim por diante. Acima de 320, o resultado é considerado positivo.
- Resultados positivos ou reagente: quando o resultado é 1/320, 1/640 ou 1/1280.
- Resultado Negativo ou não reagente: quando o resultado é 1/40, 1/80 ou 1/160;
FAN negativo significa que não tenho doenças autoimunes?
Um FAN negativo é importante para descartar o lúpus eritematoso sistêmico e doença mista do tecido conjuntivo. Nos casos de esclerodermia, dermatomiosite, síndrome de Sjögren ou polimiosite, porém, o resultado negativo significa que há menor probabilidade de que o paciente tenha o diagnóstico, mas não os exclui as doenças.
E se o FAN foi positivo?
Quando o FAN é positivo, é feita a observação do padrão de positividade, que é baseado na fluorescência vista no microscópio. O teste positivo sugere a presença de alguma doença autoimune, mas não define o diagnóstico. É necessário que o médico relacione este resultado às condições clínicas do paciente, uma vez que o resultado pode ser alterado quando o paciente apresenta inflamações, neoplasias ou faz uso de alguns medicamentos.
É importante ressaltar também que o FAN é positivo entre 10% a 15% da população saudável. Padrões pontilhados finos também indicam baixa probabilidade de doença autoimune.