NOVAS FRONTEIRAS DA MEDICINA
A medicina hoje passa por uma revolução que visa personalizar os cuidados de acordo com a biologia única (principalmente genética) de cada indivíduo. Esse conceito “revolucionário” recusa a noção falsa de igualdade biológica entre os sexos. De acordo com vários estudos, deve sempre prevalecer a noção de que cada indivíduo deve ter suas características e necessidades únicas conhecidas e respeitadas. Ou seja, a medicina da diferença entre os sexos ocupa-se do óbvio!
Estima-se que o processo da evolução tenha seis milhões de anos. Ao longo desse tempo, homens e mulheres assumiram diferentes papéis na reprodução e na perpetuação da espécie humana. Esses papéis estão embebidos em nossos genes e nas variações dos sistemas fisiológicos entre os sexos, as quais algumas poucas décadas de mudanças dos papéis sociais de cada um deles não são suficientes para alterar.
Os organismos de homens e mulheres, apesar de semelhantes, podem se comportar de forma diferente e impactar as estratégias de diagnóstico e de tratamento. Muitas pesquisas que baseiam as condutas médicas, por exemplo, foram feitas exclusivamente em homens, cujo organismo não apresenta variações mensais, e permite pesquisas mais simples e mais baratas.
Vamos ver alguns exemplos de diferenças relevantes. As mulheres foram encarregadas de cuidar dos bebês e das crianças por muito tempo. Esse contato físico próximo era acompanhado de um maior risco de adquirir doenças infecciosas. Isso levou também ao desenvolvimento de um sistema imune mais robusto em mulheres: mais resistentes às infecções e mais suscetíveis a doenças autoimunes.
Em outro exemplo, as doenças cardíacas são consideradas eminentemente masculinas, mas essa noção popular só é verdadeira até aos 50 anos (menopausa). O risco nas mulheres aumenta muito com o declínio dos estrogênios e com o aumento de fatores de risco como obesidade e tabagismo. Hoje, as doenças cardiovasculares são também a principal causa de morte em mulheres.
Tradicionalmente, os valores de referência para interpretarmos testes de laboratório foram estudados em homens e mulheres, especialmente para os hormônios sexuais, e são informados para cada sexo (e, às vezes, idade). É bastante sabido que pode haver diferenças relacionadas ao sexo em vários testes laboratoriais. O sistema de determinação do sexo biológico é direcionado por cromossomos e por hormônios sexuais. Portanto, cariótipos e hormônios esteroides se comportam de maneira distinta.
Após o início da puberdade, os órgãos relacionados às características sexuais se desenvolvem e os testes que mostram esse funcionamento mostram diferenças óbvias, as quais se reduzem após a menopausa. Estudos mostram comportamento semelhante para o metabolismo ósseo e para o metabolismo lipídico, os quais parecem bastante influenciados pelos estrógenos. Por outro lado, as diferenças são pouco notáveis quanto aos órgãos presentes em ambos os sexos, com algumas exceções. Esse impacto ainda é pouco conhecido e são necessários mais estudos nesta área.
É importante reconhecer que há uma gama, um espectro, entre as características exclusivamente femininas e masculinas. Não devemos confundir, porém, as diferenças biológicas entre os sexos com as diferenças entre os gêneros masculino e feminino e toda a gama entre eles. Mas é importante mencionar que os transgêneros vêm colocando importantes questões médicas e desafios quanto à melhor abordagem das alterações superpostas ao genótipo e ao fenótipo originais.
Essa nova área de conhecimento médico deve levar em conta tanto os aspectos biológicos dos diferentes sexos como os aspectos sociais e ambientais relativos aos gêneros, de forma a permitir uma conduta médica mais humanizada, personalizada e efetiva.